Declaração de artista

Em minha prática artística, a escrita e a pintura entrelaçam-se de forma integrada. Ao desenvolver um conto, a narrativa emerge também em imagens, e cada forma de expressão influencia a outra. Nesse processo criativo, a escrita e a pintura imaginam-se mutuamente, costurando-se em metáforas. Entre o conto e a pintura, não há ênfase na sequencialidade; em vez disso, a abordagem é não linear, fragmentada, e permeável tanto à narrativa do conto e quanto à imaginação do espectador. Assim como na vida, em que nossas certezas são construídas a partir de fragmentos dispersos e lacunas silenciosas, o espectador compõe sua própria interpretação a partir dos vazios e das partes que lhe são reveladas. Meu trânsito entre as linguagens da literatura e da pintura busca uma síntese, uma expressão que sugira ou convide a intuir a multiplicidade de sentidos que habitam o silêncio.

A noção de silêncio é central em minha pesquisa artística. Para mim, o silêncio não é apenas a ausência de som, mas uma camada de significados ocultos que permeia minhas narrativas visuais e literárias. É o intervalo, uma pausa entre palavras e imagens, um espaço de reflexão onde o espectador é convidado a criar novos sentidos. Nos contos gráficos expositivos, o silêncio se apresenta de forma simbólica, na tensão entre o dito e o não dito, permitindo interpretações múltiplas e abertas.

O uso fragmentado da narrativa sequencial em minhas obras evoca também a noção de silêncio das tradições artísticas japonesas, como o Ma, em que o espaço vazio é parte ativa da composição, oferecendo respiros e pausas tão importantes quanto as partes preenchidas. Valorizo na pintura os fragmentos e instantes ausentes no conto, que fazem parte do que pode ser imaginado a partir dele — e vice-versa. Na concepção das obras e na montagem da exposição, busco refletir essas noções. A valorização do silêncio, por meio da fragmentação do conto em elementos visuais, permite ao espectador preencher o "vazio" com suas próprias interpretações e sentimentos.

Em minha dissertação de mestrado, busquei mostrar como o intervalo entre os quadros dos romances gráficos explora de forma singular essa pausa, essa instância plena de sentidos. Embora a intersecção entre diferentes linguagens nas artes visuais seja cada vez mais explorada, a combinação específica de escrita e pintura em meu trabalho desafia as convenções de como a arte visual e a literatura podem interagir, incorporando a literatura como parte essencial da experiência visual.