Anuk é uma artista refinada que, no desenho, na pintura e no texto, prima pela elegância na execução de seu ofício e pela sofisticação intelectual. A mesma mão que desenha é a que pinta e escreve, usando a arte como instrumento de reflexão e pensamento. É difícil delimitar, em sua série, as fronteiras entre imagem e texto. História Errada é um conto, um conto gráfico e uma exposição de pinturas, e traz um enredo criado pela artista, uma trama engenhosa que envolve a intuição e a razão.

A obra de Anuk pode nos remeter, em alguma medida, à iluminura medieval, que alcançou seu apogeu na alta Idade Média. Também pode ser associada aos poemas narrativos impressos e ilustrados com xilogravuras do Nordeste brasileiro, em que muitos cordelistas combinam imagem e texto para contar histórias. Além disso, há uma relação com a tradição japonesa, que frequentemente incorpora caligrafia para expressar ideias filosóficas e poéticas, uma prática profundamente enraizada na tradição zen, em que a escrita é uma expressão direta do espírito do artista. Em Anuk, todas as referências se misturam e se diluem, tornando-se adubo para o nascimento de uma arte completa que une visualidade e literariedade.

O uso de linguagens distintas na obra de Anuk estrutura uma série coesa e com unidade, onde a narrativa produz sentidos seja em cada obra isolada ou em seu conjunto. Isso permite que o leitor/espectador se conecte com os personagens e eventos, bem como com a plasticidade expressa nas cores de suas pinturas. A integração de texto e imagem, no caso de Anuk, resulta em uma série multifacetada, que vai além da simples percepção visual para envolver o espectador em múltiplos níveis de interpretação. A incorporação de texto em suas obras é uma extensão natural de sua formação multidisciplinar e talento, permitindo que a artista comunique suas ideias de forma eficaz.

Em seus contos gráficos, Anuk constrói múltiplas significações simbólicas. E é nesse sentido que sua obra representa uma expressão vanguardista. Anuk utiliza procedimentos contemporâneos para criar algo relevante. Sua produção pode ser interpretada como um diálogo entre as tradições artísticas estabelecidas e a fortuna crítica do passado, resultando em uma forma de expressão inovadora fundamentada em pesquisa meticulosa. Essa capacidade de iluminar mutuamente palavra e imagem é o cerne do valor intrínseco presente na obra desta artista singular.

O MUNDO DE ANUK

SERGIO MAURICIO MANON

Sergio Mauricio Manon participou como artista na histórica mostra Como vai você, geração 80?. Ao longo dos anos, desempenhou papéis de curador e artista em diversas exposições, tanto em espaços privados quanto em instituições renomadas como o MAM/RJ, Museu Nacional de Belas Artes e Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro. Autor premiado de 10 edições da publicação fine art Santa Art Magazine, atuou como editor e curador, envolvendo mais de 190 artistas, pensadores e pesquisadores de destaque do Brasil e do mundo. A publicação teve um impacto significativo na construção de várias carreiras artísticas. Foi autor, curador e artista da mostra inaugural do centro cultural Z42 Arte, Máquina do Mundo , que reuniu 22 artistas do Brasil e de diversas partes do mundo. Além disso, foi autor, curador e artista da publicação fine art e da mostra Vagalumes 21, que contou com a participação de 21 importantes artistas contemporâneos brasileiros. Em dezembro de 2023, realizou a mostra individual Jardim das Sinapses: enigmas da inteligência natural , na galeria de arte de um clube privado em São Paulo. Em junho de 2024, inaugura, como curador, a exposição individual “História Errada” na galeria Portal19 Arte, da artista multifacetada Anuk. As obras de Manon estão presentes em importantes coleções no Brasil e no mundo.